Sai a cadeira de rodas, entram pesos e halteres.

09.11.2017

Para fugir dos tradicionais exercícios para deficientes, menina vítima de bala perdida na adolescência, se dedica à musculação e manda recado: “Negócio é se movimentar”

São 16h de uma quarta-feira, e o carro de Camila Lima entra no estacionamento da academia onde “bate ponto” religiosamente duas vezes por semana. Aos 31 anos, ela convive com uma lesão medular na sexta e sétima cervical há 19, quando foi vítima de bala perdida em um assalto a uma joalheria na volta da escola, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro. Mas a cadeira de rodas que a acompanha desde os 12 anos nunca foi um empecilho na vida dessa carioca. É com ela e o carro adaptado que Camila vai para todos os lugares: trabalho, fisioterapia, encontro com amigos, treinos de natação e, mais recentemente, musculação. No esporte, a menina que é formada em ciências sociais encontra uma forma de se manter ativa, melhorar o condicionamento, ganhar autonomia, e, principalmente, de se sentir apenas mais uma pessoa saudável no meio de tantas outras.

Mas passar despercebida é praticamente impossível para Camila. Uns por estranheza, outros por admiração, todos olham para a menina, que de longe parece ser frágil, pulando da cadeira de rodas para os aparelhos e fazendo força na academia. Acha que isso a incomoda? Nem um pouco…

– Já acostumei. Há 19 anos é assim. Quando eu chego no local de cadeira de rodas viro sempre o centro das atenções. Mas com o tempo isso vai sendo superado – disse, com um largo sorriso no rosto.

E a escolha pela musculação foi mais uma forma de Camila não se sentir “paciente” e provar, talvez para si mesma, que, mesmo na cadeira de rodas, é uma pessoa que se cuida como qualquer outra.

Daniel Carvalho é o personal que virou amigo e braço direito de Camila. Ele nunca tinha trabalhado com pessoas com necessidades especiais antes, mas encarou o desafio e, com dedicação e boa vontade, tirou de letra a oportunidade de somar na vida dela.

– É uma experiência incrível poder participar da melhora de vida dela. Encarei como um desafio, um aprendizado, e tive tranquilidade para fazer o treinamento dela. A gente foi se conhecendo, e aprendemos muito um com o outro – contou.

– De manhã eu trabalho, e à tarde faço as atividades físicas. A noite ainda estudo. Tenho o carro adaptado que me ajuda muito. Na rua não é tão fácil andar assim, o carro me deu muita independência.

 E para aquelas pessoas que, como ela, possuem alguma limitação física e acham que não podem fazer coisas simples, como frequentar uma academia, por exemplo, Camila tem um recado: mexa-se, porque você é capaz!
– Muita gente fica em casa porque acha que não dá para fazer, que não consegue, mas dá para fazer. Há uma infinidade de exercícios, de adaptações que vão ajudar qualquer pessoa. Super indico academia ou qualquer atividade física. O negócio é se movimentar. Independentemente de idade e de condição física, a gente consegue melhorar muito nossa qualidade de vida com exercícios. Mexer com o corpo nos surpreende.
 
Fonte: Globo Esporte
Tags:
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